Por Marcos Pinto
Impressionou-me a constatação da existência da estirpe MORAIS NAVARRO
na lendária e uberosa SERRA DO MARTINS, tendo decorridos
longos 314 anos que aportou na então cidade do Rio Grande o
célebre bandeirante "CALÇÃO DE COURO" - como era conhecido o
Mestre-de-Campo MANOEL ÁLVARES DE MORAIS NAVARRO,
comandando o não menos famoso "TERÇO DOS PAULISTAS". O epíteto
atrela-se ao fato de que a sua indumentária compunha-se de um
calção de couro que descia até um pouco abaixo dos joelhos, onde
era amarrado a uma espécie de bota, também de couro. Pisou o
solo potiguar no dia 18 de Novembro de 1698. Era natural da
então próspera Vila de São Paulo, de onde veio incumbido pelo
Governador-Geral do Brasil Matias da Cunha, que dirigiu um
ofício à Câmara de São Paulo, "pedindo que ela fizesse todo o
esforço para conseguir que os Bandeirantes de Piratininga
viessem em socorro dos seus patrícios setentrionais", que estavam
sendo assolados por um LEVANTE DO GENTIO INDÍGENA. Tal
correspondência foi datada de 10 de Março de 1688. Concedidas as
primeiras "Datas de Sesmarias" no interior das Capitanias da
Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, os índios tapuias,
aparentados dos Janduís, começaram a sentir os efeitos negativos,
representados pela desapropriação de suas terras, para eles
indispensáveis à obtenção de sua alimentação voltada para a
caça,a pesca e a coleta de mel. Foi assim em Apodi, na região do
Seridó, em Assu e na região do Jaguaribe, no Ceará. O combate
à indiada hostil foi denominado de "A GUERRA DOS BÁRBAROS", cujo
início deu-se no ano de 1683, sendo o epicentro do levante a
Capitania do Rio Grande.
Da cidade
do Rio Grande, ou Natal, o TERÇO DOS PAULISTAS seguiu para o
Arraial do Açu, feudo dos índios Janduins ou Janduís, onde seria a
sua atuação bélica. Na Ribeira do Açu novos indígenas foram
alistados no Terço, provenientes da Missão Jesuíta do Reverendo
Padre Philippe Bourel, Jesuíta alemão responsável pela Aldeia
do então Lago Podi (Apodi), formada por tapuias paiacus. Os
componentes do Terço tinham o espírito de independência
exagerado, ao ponto de Morais Navarro ter
saído do Açu e se dirigido até a região do Jaguaribe, onde hoje
se localiza a cidade de Limoeiro do Norte, a pretexto de firmar
a paz com os Tapuias, comandando 130 infantes e mais de cem
índios Janduís. Antes, enviara um índio com fácil acesso
àqueles, convidando-os para confraternização, prometendo-lhes
presentes para as mulheres e crianças índias. Era uma cilada. Após
beberem, comerem e dançarem, o próprio Morais Navarro
deu início à matança, eliminando o cacique Jenipapoaassú e seu
irmão, sinalizando para que os seus soldados e índios da sua
tropa continuassem o cruel trucidamento, que culminou no
extermínio de 450 índios, não tendo sido poupados sequer as
mulheres e crianças, cujos corpos ficaram expostos, juncando
aquelas plagas cearenses com tristeza e dor. Os que caíram ainda
vivos pelas balas dos bacamartes e dos arcabuzes, eram passados
ao fio das espadas, ou seja, degolados. Esse trucidamento ocorreu
a 04 de Agosto de 1699.
No que diz respeito à presença da família MORAIS NAVARRO
na "Serra do Martins", encontrei no arquivo morto do 1º
Cartório Judicial daquela cidade, um inventário do ano de 1924, no
qual consta como inventariado o Sr. ANTONIO CIPRIANO DE MORAIS
NAVARRO, que havia falecido a 24 de Janeiro de 1917, deixando a viúva Sra. Lívia Augusta Soares de Morais, e os filhos:
F.01- ALEXANDRINA DE MORAIS SOARES - Casada com Mecenas Messias Soares.
F.02- ANTONIO CIPRIANO DE MORAIS NAVARRO. (Repete o nome do pai). - Casado com Clarice de Lavor Navarro.
F.03- PHILOMENA DE MORAIS NAVARRO.
F.04- THEREZA DE JESUS LISBOA - Casada com José Rosendo de Lisboa.
F.05- IDALINA DE MORAIS NAVARRO.
O patrimônio do falecido representava uma
considerável abastança, posto que constava uma formidável fazenda,
denominada de "Sítio Oriente, antigo sítio
Pé-de-Serra,
com dois engenhos: Um para a fabricação de farinha de mandioca
e o outro para a fabricação de rapaduras. Consta, ainda, uma
casa senhorial situada na praça da Conceição (Ao lado da
Igreja-Matriz de Martins) fazendo esquina com a Rua Senador
Pedro Velho, contando duas portas e duas janelas na frente, e
uma porta e três janelas no oitão que deita para o poente,
devidamente murada. Essa majestosa casa ainda encontra-se
edificada e bem conservada, onde reside atualmente a abnegada
professora aposentada AZELMA ROSENDO. Sugiro aos estudiosos da
genealogia martinense, que envidem esforços no sentido de procurarem
o liame genealógico que liga o descendente martinense ao
famigerado Mestre-de-Campo Manoel Álvares de Morais Navarro.
Lendo uma edição fac-similar do jornal
"MOSSOROENSE", Edição de 11 de Fevereiro de 1874, encontrei cópia
de sentença condenatória do Capitão João Félix de Morais Navarro,
que residia na então Vila de Portalegre, sentenciado como um dos
autores intelectuais (mandante) dos crimes de mortes perpetrados
nas pessoas de José Marcolino de Bessa e de Ricarte José da
Silva. Surge a necessidade de acurada pesquisa de campo, para
averiguar se este militar deixou descendência naquele belo
rincão sertanejo.
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