João Felipe da  Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,  membro do IHGRN e do INRG
Nos  registros antigos da Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação, encontramos  membros da família Peres de Gusmão. Antes de fazer um artigo sobre essa  família, resolvi escrever sobre D. Felícitas, de 48 anos, que morava na Paraíba  e foi presa pela Inquisição, acusada de judaísmo, e enviada, a partir de  Pernambuco, no navio Triunfo da Fé e Almas, para Lisboa. Era aparentada dos  Peres de Gusmão, que viviam por aqui, descendentes do Doutor Dionísio Peres de  Gusmão e D. Leonarda Peres de Gusmão. Após o documento inicial, escreveremos  sobre a genealogia dela, descrita no processo.
Os Inquisidores Apostólicos  contra a herética pravidade e apostasia nesta cidade de Lisboa, e seu distrito,  &. c.
Mandam a qualquer  familiar, ou oficial do Santo Ofício, que no Forte Velho ou onde quer que for  achada Dona Felícitas Peres, cuja qualidade de sangue se não sabe, casada com  Luis da Fonseca, natural do Recife de Pernambuco e moradora no Forte Velho a  prendais com sequestro de bens, por culpas que contra ela há neste Santo  Ofício, obrigatórias a prisão, e presa a bom recado, com cama, e mais fato  necessário a seu uso, e a trateis e entregareis, debaixo de chave ao Alcaide  dos cárceres secretos desta Inquisição. E mandamos em virtude de Santa  Obediência, e sob pena de excomunhão maior, e de quinhentos cruzados para as  despesas do Santo Ofício, e de procedermos como mais nos parecer, a todas as  pessoas, assim Eclesiásticos ou Seculares, de qualquer grau, dignidade, condição,  e preeminência que sejam, vos não impeçam fazer o sobredito, antes sendo por vós  requeridos, vos deem todo o favor e ajuda, mantimentos, pousadas, camas,  ferros, cadeias, cavalgaduras, barcos, e tudo o mais que for necessário, pelo  preço, e estado da terra. Cumpriu assim com muita cautela e segredo, e ao mais  não façais.
Dado em Lisboa no Santo  Ofício da Inquisição sob nossos sinais, e selo dela, aos cinco dias do mês de  julho de mil setecentos e trinta anos. Manoel Rodrigues Ramos os subscreveu.
Das  informações genealógicas, constava que ela se chamava Dona Felícitas Uchoa de  Gusmão, que era cristã-nova por parte de sua mãe, mas por parte de pai não  tinha esta certeza por haver alguma murmuração de ser parte de cristão-novo,  casada com Luis da Fonseca Rego, que vivia de suas roças, natural da Freguesia  de São Gonçalo de Tapecima (Itapissuma), moradora no Forte Velho, termo da  cidade da Paraíba, Bispado de Pernambuco, de quarenta e oito anos de idade.
Eram  seus pais Bartolomeu Peres de Gusmão e Dona Antonia de Mendonça Uchoa, não  sabia de onde ele era natural, mas foi morador no Recife, e sua mãe junto ao  Recife, e moradores na cidade de Olinda. 
Seus  avós, assim paternos como maternos, eram já defuntos; e os paternos se chamavam  João Peres Correa de Gusmão e Leonarda da Costa, também, não sabia a  naturalidade, e foram moradores na cidade de Olinda.
Os  avós maternos se chamavam Francisco de Faria Uchoa, que foi Senhor de Engenho,  e Dona Anna de Lira (esta filha de Antonio Fernandes Pessoa e Maria de Aguiar,  tendo se casado antes com Luis da Silva), moradores na freguesia de Egitiá  (Jiquiá), junto ao Recife, também não sabia a naturalidade deles. 
Da  parte de seu pai teve três tios e uma tia, a saber: Gonçalo Peres de Gusmão,  Leonardo Peres, e Domingos Peres, e Joanna de Oliveira, todos defuntos e sem  filhos.
Da  parte de mãe teve um tio e duas tias, a saber, Luiz de Sousa Uchoa, Dona  Nazaria de Lira, e Dona Joanna de Lira; Seu tio Luis de Sousa foi casado e não  teve filhos; sua tia, Dona Nazaria de Lira, foi casada, em Santo Estevão, com  Pedro da Cunha, lavrador de cana, teve filhos, não sabe quantos, nem como se  chamavam; sua tia Dona Joanna de Lira foi casada junto ao Recife, nos Afogados,  com Mathias Moreira Queiroz, e não teve filhos.
Contou,  ainda, que tinha duas meias irmãs por parte de sua mãe, que casou, a segunda  vez, com Francisco Vaz Carrasco, escrivão dos presídios, e se chamavam Dona  Ignez de Vasconcelos e Dona Francisca; sua irmã Dona Ignez de Vasconcelos era casada,  em Goiana, com Francisco Rodrigues Xares (Francisco Xerez Furna), não sabia se  tinha filhos (teve, e casou uma segunda vez).
E  que ela, como disse, se chamava Dona Felícitas Uchoa, casada com Luis da  Fonseca Rego, e tinha um filho chamado Dionísio de onze anos.
Disse  mais que era cristã batizada, e foi na Igreja de São Gonçalo de Itapissuma pelo  pároco que então era, a quem não sabia o nome; e foi seu padrinho Dionísio  Peres de Gusmão que estava reputado por filho bastardo de seu pai, e era já  defunto sem filho, e não teve madrinha; era crismada, e o foi, na Igreja de  Santo Estevão, pelo bispo de Pernambuco que então era chamado Dom Mathias, não  sabia de que, e foi sua madrinha sua tia Dona Nazaria.
E  que ela quando chegou aos anos de juízo, e discrição ia às igrejas ouvir missa,  e pregação, se confessava, e comungava, e fazia as mais obras de cristão: e  mandada por de joelhos se persignou e benzeu e disse as orações do Padre Nosso,  Ave Maria, Credo, Salve Rainha, os mandamentos da Lei de Deus, e os da Santa  Madre Igreja, que tudo soube bem.
E  que ela só sabe ler, escrever; e que só saiu de Pernambuco para a Paraíba, onde  conversava com toda casta de gente, que se lhe ofereceu, ou fossem cristãos  novos ou cristãos velhos; e que ela nunca foi apresentada ao Santo Ofício, nem  presa sem ser agora, nem parente seu algum o foi.
Perguntada  se sabia a causa de sua prisão, disse que seria pelas culpas que tem  confessado; foi lhe dito que ela estava presa por culpas, cujo conhecimento  pertence ao Santo Ofício.
Quer  saber mais sobre o processo de D. Felícitas? Visite http://digitarq.dgarq.gov.pt/viewer?id=2299877.
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