Páginas

domingo, 17 de junho de 2012

Publicação a pedido, o caso do Patacho Três de Março




É no jornal Diário Novo, digitalizado pela Biblioteca Nacional, que vamos encontrar essas preciosidades abaixo. Elas trazem para os dias de hoje, a vida de alguns moradores de Macau e da extinta Ilha de Manoel Gonçalves.
Os abaixo assinados, sabem por ser público, e alguns terem presenciado, que o patacho – Três de Março – do qual é capitão Joaquim Manoel da Costa Pereira, fôra encalhado no pontal do Amargoso de propósito para o perderem, por ser aquele lugar impróprio para se encalhar navios para se raspar, tendo por isso tomado uma porção de água pelos altos, e também por o terem arrombado no costado confronte a câmara; e tanto prova ser de propósito, que o mesmo capitão deu ao carpinteiro Manoel de Sousa Monteiro, e ao Calafate Gorgonio Ferreira de Carvalho, por suborno, a quantia de cem mil réis, para assinarem o termo de vistoria, além dos seus ganhos pelo contado, assim mais dera o dito capitão ao capitão Manoel José Fernandes, cem patacões no valor de duzentos mil réis; para julgar as vistorias, protesto e mais papéis a seu favor, como subdelegado de polícia; porque dissera o mesmo Fernandes, que sem receber essa soma nada assinava; dito isso pelo sobredito capitão Pereira, a José Luiz Correia, e ao capitão Silvério Martins de Oliveira, e estes o referiram ao capitão Jacinto João da Ora, a Antonio Alves da Silva, a Ignácio Zacarias de Miranda, a Pedro Alves Ferreira, e que dera mais a Joaquim José de Souza, trinta e dois mil réis, para assinar os mencionados papéis como homem marítimo, além de outras peitas que tem havido que por ora não podem declarar suas quantias. O referido é verdade e juraremos se for preciso. Macáo do Assú, 24 de julho de 1847. Ignácio Zacarias de Miranda, Francisco Gabriel Domingues, Antonio Alves da Silva, Manoel de Miranda Netto, Pedro Alves Ferreira, Francisco José de Mello Guerra, Jacinto João da Ora, João Martins Ferreira. Estava reconhecido.
Na sequência uma série de depoimentos que vale a pena conhecer, pelos detalhes da época e do lugar.
Eu abaixo assinado, prático 2º substituto da barra do Assú, atesto debaixo de juramento, que fui persuadido pelo capitão do patacho – Três de Março – Joaquim Manoel da Costa Pereira para afirmar que o sobredito Patacho fora encalhado em consequência de ruína, que tinha adquirido na navegação, ao que me não sujeitei, e nem me sujeito por conhecer com toda a evidência que o seu encalhe foi positivamente manobrado, uma vez que indo eu a seu bordo com o fim de o meter na barra não quiseram nem que atracasse ao navio, isto mesmo o tenho declarado publicamente, e perante inúmeras testemunhas, e por isso aparecendo qualquer documento meu em abono desta fraude é completamente falso, e eu estarei sempre pronto a dissolvê-lo em qualquer tribunal onde ele se apresente: é quanto tenho a afirmar e deponho sob juramento todas as vezes, que ele de minha exija. Macáo, 17 de agosto de 1847. A rogo de Manoel Roza da Purificação, Manoel Pedro de Miranda. Estava reconhecido.
O cidadão Vicente Ferreira dos Reis, oficial de calafate, etc. Atesto, que fui a bordo do patacho – Três de Março -, para vistoriar a sua construção, e chegando ao mesmo achei estar em muito bom estado para navegar, por estar de novo fabricado, tanto de madeiras como mesmo o costado por dentro, e fora; e o motivo que teve o mesmo patacho de tomar água, foi o terem arrombado na câmara como presenciei. O referido é verdade, e o jurarei se for preciso. Macáo, 16 de julho de 1847. Vicente Ferreira dos Reis. Estava reconhecido.
O cidadão André de Souza Miranda e Silva, marítimo, etc. – Atesto que fui a bordo do patacho  Três de Março, capitão Joaquim Manoel da Costa Pereira, no dia 16 de julho, e revendo a sua construção, achei estar toda perfeita, tanto o costado, como os madeiros, mastros, vergame, pano, massame, mesmo de calafecto, e achei mais o terem arrombado no costado confronte a câmara, e foi este o motivo de ter o dito patacho tomado água, e também por terem encalhado em um lugar aonde nunca se encalhou navio algum para se raspar, e com todos estes naufrágios que apareceram avalio toda a obra e despesa para o safar do seco para o canal na quantia de quatrocentos mil réis, e feitas estas despesas, ficava o mesmo patacho capaz de navegar bastantes anos; e isso afirmo por ser verdade, e jurarei se for preciso. Macáo, 16 de julho de 1847. – André de Sousa Miranda e Silva. Estava reconhecido.
José Antonio do Nascimento, prático 1º substituto da barra do Assú, etc. – Atesto que fui a bordo do patacho nacional Três de Março, por me fazer sinal para entrar, e chegando a bordo do mesmo houve o capitão Joaquim Manoel da Costa Pereira de me aceitar para o botar dentro da Barra, o que assim o fiz, e chegando dentro do rio, confronte o pontal do Amargoso, ali fundeei dito patacho a salvamento às 5 horas da tarde do dia 9 de julho, e na maré seguinte de madrugada do outro dia querendo vir com o navio para o ancoradouro, disse-me o mesmo capitão que não vinha por ir encalhar o dito navio na praia para o raspar, e dizendo-lhe eu que aquele lugar aonde ele determinava encalhar o mesmo navio não era próprio, por estar muito perto da barreira do rio, e mesmo por empolar alguns mares, e como o mesmo capitão a nada que lhe disse atendeu, houve eu de saltar para terra, e ele o encalhou sempre aonde tinha determinado no dia 11 do corrente; e foi este o motivo, que teve o navio de se encher de água pelos altos, por ter o mesmo capitão dito, que ele tomava água pelos ditos altos, e que o fundo estava estanque, e isto afirmo por ser a verdade, e jurarei aos santos evangelhos, se preciso for. Povoação de Macáo, 16 de julho de 1847. A rogo de José Antonio do Nascimento, Pedro Álvares Ferreira. Estava reconhecido.
O cidadão Barnabé Felix da Silva, oficial de carpinteiro etc. – Atesto que fui a bordo do patacho – Três de Março -, para ver o seu estado de construção, e chegando ao navio achei-o estar suficiente para navegar, por ter todas as madeiras, costado, mastro, e vergame em bom uso, o que afirmo por ser verdade e jurarei se for preciso. Macáo, 16 de julho de 1847. Barnabé Felix da Silva. Estava reconhecido.
O cidadão Arcenio Alves da Silva Carvalho, marítimo, etc. – Atesto, que fui no dia 16 do corrente a bordo do patacho – três de Março -, capitão Joaquim Manoel da Costa, e examinando a construção do mesmo achei estar perfeita tanto o costado, como as madeiras, mastros vergame, pano, massame, e mesmo do Calafate; achando mais o terem arrombado no costado confronte a câmara; sendo este o motivo de ter dito patacho tomado água, por o terem encalhado em um lugar aonde nunca se encalhou navio algum para se raspar; e à vista dos naufrágios, que apareceram avalio toda a obra, e despesas para o safar do seco para o canal na quantia de quatrocentos mil réis; e feitas estas despesas ficava o mencionado patacho capaz de navegar muitos anos, e isto afirmo por ser verdade, e jurarei se preciso for. Macáo do Assú, 16 de julho de 1847 – Arcenio Alves da Silva e Carvalho - abono a firma de Arsenio Alves da Silva Carvalho por ter reconhecimento. Macáo, 22 de Julho de 1847: - Pedro Alves Ferreira – Estava reconhecido.



2 comentários:

  1. Fiz um artigo para o Jornal, onde extrai parte do texto acima. Como tem algumas considerações, resolvi postar no comentário. vejamos as partes que não estão no texto acima:

    Um dia vai chegar, aqui no Rio Grande do Norte, uma organização estrangeira para fazer uma exploração completa onde foi a Ilha de Manoel Gonçalves, um dos locais mais importantes da História potiguar. Por que o Governo do Estado, a UFRN, a Marinha Brasileira, a Petrobrás, a Prefeitura de Macau, e as companhias salineiras não se juntam e fazem um projeto para investigar tudo sobre a Ilha que o oceano tragou?
    As informações sobre os habitantes da Ilha de Manoel Gonçalves e os primeiros povoadores de Macau não são muitas. Aqui, mesmo neste jornal, já trouxemos várias informações a partir de registros paroquiais. Entretanto, com a facilidade de acesso aos jornais mais antigos digitalizados pela Biblioteca Nacional, podemos trazer mais detalhes sobre os personagens que transitaram pelas duas Ilhas. No Diário Novo encontramos uma publicação que trata de um caso que ocorreu com o patacho Três de Março. O espaço aqui não comporta toda a matéria, mas os leitores podem ver todo o material no meu blog, incluindo os depoimentos. Vejamos, pois, parte da publicação.

    Alguns desses personagens encontramos nos registros da Igreja: o carpinteiro Manoel de Sousa Monteiro casou na Ilha de Manoel Gonçalves, com Anna Francisca Lessa, em 1829; o capitão Manoel José Fernandes, português, era casado com Anna Martins Ferreira, filha do também português capitão João Martins Ferreira, um dos primeiros povoadores de Macau; Francisca Idalina de Carvalho, filha do Calafate Gorgônio Ferreira de Carvalho e de Anna Joaquina Cordeira, casou com o assinante acima, Ignácio Zacharias de Miranda, filho do Capitão Jacinto João da Ora e Adriana Pereira dos Anjos; Anna Joaquina de Mello Guerra, filha de Francisco José de Mello Guerra e Maria Francisca de Miranda, casou com José Correia de Mello, filho de João Correia de Mello e Josefa Maria da Conceição; Pedro Alves Ferreira, suspeito que era filho do Capitão João Martins Ferreira e Josefa Clara Lessa; João Martins Ferreira, que aparece como assinante, não era o capitão de mesmo nome já citado, pois nessa data Dona Josefa Clara era viúva, mas pode ser um filho do dito capitão, cujo batismo não foi localizado; o capitão Silvério Martins de Oliveira era casado com Dona Joana Nepomucena, e viveu na Ilha de Manoel Gonçalves, tendo sido o primeiro Presidente da Mesa de Rendas de Macau; sobre o capitão Joaquim Manoel não foi encontrado qualquer referência; Manoel Moreira de Sousa, um filho de Joaquim José de Sousa e Josefa Moreira da Costa, casou em Macau, no ano de 1860, com Joana Serino da Silva, filha de Luis Soares da Costa Catolé e Francisca Maria de Seixas.

    ResponderExcluir
  2. Joacy Medeiros me mandou o seguinte palpite:
    Prezado Professor Felipe,

    Atendendo a sua sugestão me arrisco a dar uma palpite.
    Pelo que se percebe da leitura do depoimento do prático tudo indica que a Ilha de Manoel Gonçalves ficava na foz do Rio Açu. De um lado o rio e do outro o mar. É bem provável que a ilha tenha sumido aos poucos nas grandes enchentes do Rio, especialmente nas baixas marés, onde a força de desague do Rio tende a ser maior, pelos desníveis das aguas. Cheguei a essa hipótese considerando o que aconteceu com as margens do Rio Açu, na altura da travessia entre o Baldum e a Baviera, prolongamento da estrada carroçável que ligava e ainda liga Açu e Ipanguaçu, quando o Rio está baixo,

    É possível que as cartas geográficas e náuticas disponíveis em exposição no Museu Roberto Brennan, em Recife, possam fornecer alguma pista sobre a ilha Manoel Gonçalves.

    Hoje dá para ter uma boa ideia do que as enchentes fizeram ao devastarem às margens do Rio Açu. Invadiram propriedades e áreas anteriormente férteis, principalmente nas margens do lado de Ipanguaçu. É certo que os canais de drenagens das grandes propriedades de fruticultura muito contribuiram com essa devastação recente. Ao transbordarem dos canais de drenagem, as águas adentraram propriedades particulares e foram arrastando terras para cima das lavouras e deixando terras inférteis. Esses prejuizos, causados há poucos anos, até hoje não foram indenizados aos pequenos proprietários, nem a ninguém. Bem essa é outra historia, usada apenas para ressaltar as forças das águas.

    Então? Espero ter instigado, pelos menos, um pouco mais o assunto.

    Cordiais saudações e incentivos as suas pesqujisas.

    ResponderExcluir

Seu comentário ajudará na correção dos artigos e fotos, bem como na construção de novas informações.