João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN, sócio do INRG e do IHGRN
Natal, sei que sua vida, desde o seu nascimento, não foi fácil. Depois da instalação do Forte, foram necessárias muitas negociações com os nativos da terra para que você pudesse vir ao mundo. E, mesmo depois do seu nascimento, seu desenvolvimento foi difícil, pois os habitantes do Rio Grande preferiam viver nas circunvizinhanças, criando seus gados, plantando e pescando do que morar com você.
Não sei o que os holandeses vieram fazer aqui. Talvez tenham vindo para cá por conta da vulnerabilidade da costa do Rio Grande e pela sua Fortaleza. Não melhoraram em nada a sua vida. Nada de novo aconteceu por aqui. Os oficiais e soldados da Companhia viviam, fora a própria Fortaleza, mais nas redondezas do que aqui. Sem nenhum apreço por você, os mercenários da Companhia Ocidental das Índias começaram uma nova cidade, lá para as bandas de Jundiaí.
Até o mercenário-mor quando esteve por aqui com seu pintor a tiracolo, só levou o registro da Fortaleza, e nada mais sobre você. Foram-se, deixando você pior do que a conheceram.
Nova esperança surgiu com o repovoamento do nosso Rio Grande. Mas a guerra contra os nativos da terra, que durou muitos anos, não fez você prosperar.
Mesmo cessando a guerra bárbara, nada melhorou. A submissão às capitanias de Pernambuco e Paraíba fez de você uma filha abandonada a sua própria sorte. Caetano Sanches, quando veio assumir a Capitania, encontrou-a em estado miserável. Koster e Tollenare não fizeram boas referências sobre você. As revoluções de 17, 30 e 35, não duraram o suficiente para provocar mudanças radicais na sua vida.
Na segunda guerra mundial, você foi mais uma vez usada e abusada, e só serviu de trampolim para as forças aliadas.
Depois de tudo isso, sua vida foi melhorando aos poucos. Sua geografia e suas belezas naturais contribuíram para a sua sobrevivência. Os parcos recursos gerados nas suas terras não permitiram desenvolvimento mais rápido. A falta de criatividade e as brigas intestinas não contribuíram para que você tivesse uma vida mais fácil.
As vésperas de um novo ano lastimo o estado em que você se encontra. O povo acreditou, ilusoriamente, talvez por erros de associação de idéias, que o verde era esperança. Do milhão de árvores prometidas para você respirar melhor, quantas foram plantadas? E seus canteiros por que estão amarelados e sujos? Por que as pedras, que fazem o meio-fio, estão fora do lugar, e de vez em quando são pintadas, mesmo assim? Natal, não se pode falar em melhoria da saúde e da educação, com tanto lixo, metralhas e galhos secos, espalhados por aí.
Natal, diga para seus vereadores que você gostaria de ficar mais bonita, e que lixo e buraco não são apenas detalhes. Peça a eles, vereadores, que estudem os códigos de postura do passado, de vários municípios do Rio Grande do Norte. Por que não se elaboram regras mais rígidas sobre as calçadas? Por que tantos terrenos vazios espalhados pela cidade sem muros e sem calçadas? Por que surgiram mais cigarreiras sobre os canteiros e calçadas? Por que os carroceiros continuam levando sujeira dos mais sabidos para os terrenos dos mais tolos? Lembre aos seus vereadores que eles representam os seus moradores e, por isso, deveriam ser mais vigilantes e lhe proteger melhor.
Natal você está sendo tratada com maldade e com perversidade. E isso, também, é improbidade. Sei que é doloroso lembrar o esquecimento que tiveram de suas partes, como a Biblioteca, o Parque das Crianças, o Parque da Cidade, os Ginásios de Esporte, o Presépio, o Machadão, a própria Fortaleza, o Juvenal Lamartine, a Ribeira com sua revitalização e seus prédios mais antigos e sem preservação. Até suas praias estão abandonadas e começam a ser cuidadas pela iniciativa privada. Seus habitantes estão adormecidos e não reagem com veemência a tanto descaso.
Não se iluda Natal. As obras da copa de 2014 não vão melhorar sua vida. Talvez, pelo que se observa, nos próximos meses, você estará mais feia e mais suja.
Por tudo isso, páro o que faço para desejar a você, Natal, um Feliz Ano Novo. Que o ano de 2012 ilumine a cabeça dos seus filhos.
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