Uruaçu: sobreviventes e descendentes (I)
As primeiras leituras sobre o massacre de Uruaçu me deram a impressão que ninguém tinha sobrevivido. Quando encontrei registros de pessoas que tinham sobrenomes iguais aos dos mártires, fiquei sem entender como isso poderia ter acontecido.
O documento de Utinga, hoje nas mãos de Paulo Leitão de Almeida, contando a genealogia dos moradores daquela região e, principalmente, de descendentes de Antonio Vilela Cid, trouxe novas informações para encontrar elos perdidos. Foi escrito por Manoel Maurício Correa de Sousa, um dos descendentes, por volta de 1840, pelo que pude perceber. A citação de decretos e livros da Igreja parecia dar veracidade ao referido documento. Algumas informações que pesquisei de livros da Igreja pareciam confirmar o que foi escrito por Manoel Maurício.
Muitos historiadores, muitas versões e muitas repetições! Mas, Fábio Arruda me enviou um documento, com o título "Relação das últimas tiranias, e crueldades, que os pérfidos holandeses usaram com os moradores do Rio Grande, escrita pelo Capitão Lopo Curado aos dois mestres de campo, e governadores da liberdade de Pernambuco, João Fernandes Vieira, e André Vidal de Negreiros", onde pude ter mais clareza sobre os fatos ocorridos em Uruaçu.
O documento de Lopo Curado foi escrito na data de 23 de Outubro de 1845, portanto, vinte dias após o massacre de Uruaçu. Nesse documento, a certa altura, ele colocou o que se segue: "Estevão Machado de Miranda tinha uma menina de sete anos sua filha na fortaleza em sua companhia, e trazendo-a consigo a receber o martírio, vendo a dita menina que os flamengos queriam matar a seu pai, como aos outros presentes, se abraçou com ele, pedindo a vida do pai com as lamentações, e entendimentos de mulher de muitos anos, e os flamengos a tiraram dos braços do dito pai, ao que lhe disse o dito: Filha, dize a tua mãe que se fique embora, que no outro mundo nos veremos. E desta maneira o mataram, e a menina tirou a saia depois do pai morto, e se foi para ele, e cobrindo-lhe o rosto, e chorando, e pedindo que a matassem também, a quem os ditos algozes lançaram mão da dita saia, e trouxeram a menina a sua mãe, e ela, e os mais contaram o caso."
Mais adiante relata Lopo Curado o que se segue:
"Muitas outras coisas milagrosas sucederam, dignas de se recontarem, que deixo ao tempo, no qual fio não passará, e todas acima declaradas foram vistas, e juradas, e autênticas por vinte cinco mulheres que o inimigo botou nesta Paraíba, com suas famílias, as ditas chegaram de maneira, e tão transfiguradas que mais parecem pessoas ressuscitadas que viventes corpos."
Pelo relato de Lopo, as viúvas com os órfãos foram levadas para a Paraíba, e foram elas que declararam as informações que ele passou para os mestres de campo. Portanto, houve sobreviventes.
Fiz mais fé no documento de Utinga, escrito por Manoel Maurício Correa de Sousa, um dos descendentes, como dito acima.
O documento começa com o português Antonio Vilela Cid que veio para o Brasil para ser Capitão Mor e governador da Província do Rio Grande do Norte. As informações desse início se repetem na "Nobiliarquia Pernambucana", de Borges da Fonseca. Antonio Vilela era casado com Ignez Duarte, irmã do Padre Ambrosio Francisco Ferro, um dos massacrados de Uruaçu. Tiveram cinco filhos: Antonio Vilela Cid, o moço, que morreu junto com o pai e o tio; Pedro Vilela Cid, que escapou por ter ido casar na Paraíba com Joana de Góis; Maria Duarte que casou com Francisco Coelho; Ignez Duarte Jr. que casou com o Sargento-mor Antonio Gonçalves Ferreira; Bárbara Vilela Cid esposa do Escabino Estevão Machado de Miranda, outro massacrado em Uruaçu.
Escreveu Maurício que Estevão e Bárbara tiveram uma única filha, Margarida Machado de Miranda (acredito que seja a menina de sete anos citada acima) que casou com o Capitão de 1ª linha, Manoel Duarte de Azevedo. Deste último matrimonio nasceu, também, uma única filha, Catharina Duarte de Azevedo que casou, por sua vez, com o Sargento Mor Manoel Rodrigues Santiago. Catharina e Manoel Rodrigues tiveram três filhos, segundo Manoel Maurício, a saber: Sargento Mor Antonio Rodrigues Santiago que casou com D. Custódia do Sacramento, Isabel Rodrigues Santiago que casou com o Sargento Mor Salvador de Araújo Correa e Elena Duarte de Azevedo que casou com o Coronel Lourenço de Araújo Correa. Nos registros de batismos que vão de 1688 até 1711, enviados por Fábio Arruda, há mais uma, Bárbara, batizada em 31 de outubro de 1689, em São Gonçalo.
Nas colunas do documento, Manoel Maurício foi relacionando os descendentes até a geração dele. Em alguns casos de parentes que não eram ascendentes diretos dele, escreve: "quem quiser que busque sua linha". No próximo artigo falaremos sobre mais descendentes, inclusive, uma que casou com um dos Varela Barca lá do Açú.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário ajudará na correção dos artigos e fotos, bem como na construção de novas informações.