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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ricardo Wiltshire e Caetana da Invenção da Santa Cruz

Após ter apresentado o artigo sobre o Escrivão da Fazenda Real, Manoel Gonçalves Branco, fui surpreendido, no dia seguinte, pelo artigo do Professor Juarez Chagas sobre o primeiro inglês, Ricardo Wiltshire, que morou em Natal. A surpresa veio por conta do fato da esposa de Ricardo ser, exatamente, uma bisneta de Manoel Gonçalves Branco. Fui atrás do artigo de Câmara Cascudo. Ele foi publicado no "Livro das Velhas Figuras de número 1". Em seguida fui verificar os registros da Igreja da época. Alguns documentos, até pelo tempo decorrido, são de difícil leitura. Por isso, cometemos alguns equívocos quando fazemos a sua transcrição.
Vamos, portanto, fazer algumas complementações ao trabalho do Mestre Cascudo. Começamos pela data de nascimento de Caetana, a esposa de Ricardo Wiltshire. Ela não nasceu em 1778 como escreveu Cascudo, mas em 1768 como está no registro que a seguir transcrevemos.
Caetana, filha legitima de Gonçalo Soares Raposo da Câmara, natural da Paraíba, e de Dona Anna Soares de Mello, natural desta cidade, neta por parte paterna de Vitoriano Raposo da Câmara, natural desta cidade, e de Dona Joana Maria de Jesus, natural da Paraíba, e pela materna de Dionísio da Costa Soares natural (não diz, mas era de Lisboa), e de Dona Eugenia de Oliveira e Mello natural desta cidade, nasceu aos três de Maio de mil setecentos e sessenta, e oito, e foi batizada com os Santos Óleos nesta Matriz, de licença minha, pelo Padre Bonifácio da Rocha Vieira, aos vinte e dois do dito; foram padrinhos José Barbosa da Câmara, solteiro, e Dona Eugenia de Oliveira e Mello, viúva. Do que fiz este termo e que por verdade assinei. Pantaleão da Costa de Araujo, Vigário do Rio Grande.
Depois, vamos encontrar alguns registros onde Caetana foi madrinha. O primeiro ocorreu em 23 de Julho de 1780. Era o batizado de Manoel, irmão de Caetana. Foram padrinhos José Teixeira da Silva, casado, e morador em Extremoz (Cascudo prefere Estremoz) e D. Anna Felícia da Rocha, solteira, moradora no Recife, por procuração de D. Caetana Soares, filha solteira, de Gonçalo Soares Raposo da Câmara. O segundo batizado ocorreu em 26 de Julho de 1786, de Vicente, filho legitimo de Manoel do Nascimento Junior e Tereza Maria de Jesus, na Capela de Santo Antonio, que serve de Matriz, como estava escrito. Os padrinhos foram o Tenente Gonçalo Soares Raposo da Câmara e sua filha Caetana da Invenção da Santa Cruz.
As datas acima corroboram com o fato de Caetana ter nascido em 1768. Outro detalhe é que o dia que Caetana nasceu, três de Maio, é a data que se comemora a Invenção da Santa Cruz.
Por algumas deduções, o Mestre Câmara Cascudo suspeitava que a data de casamento de Ricardo e Caetana fosse 1793. Ele, com certeza não encontrou o registro de casamento que ora transcrevo. Por sinal, não consta o nome dos pais dos nubentes. Isso talvez tenha sido o motivo pelo qual Câmara Cascudo passou por cima do mesmo, sem reconhecer, ali, uma filha de Gonçalo Soares Raposo da Câmara. Outro problema é a variação que ocorre, nesses registros, dos nomes das pessoas presentes neles. O caso de Wiltshire é um exemplo.
Aos sete de Janeiro de mil setecentos e oitenta e oito, digo oitenta e nove, pelas cinco horas da tarde, pouco mais ou menos, se casaram Ricardo Wiltshire natural da Inglaterra, tendo justificado ser solteiro por mandado que me apresentou o Reverendo Doutor Vigário Geral Manoel Garcia Velho do Amaral, com dona Caetana Maria Soares de Mello, com palavras de presente, em presença do Reverendo Padre Bonifacio da Rocha Vieira, de licença minha, sem se descobrir impedimento algum até a hora do recebimento, e logo receberam as Santas Benções, sendo presentes por testemunhas o Capitão Mor José Barbosa Goveia e o Doutor Provedor da Fazenda Real Antonio Carneiro de Albuquerque Gondim, pessoas de mim conhecidas, moradores nesta cidade. Do que mandei fazer este assento em que por verdade assinei. Pantaleão da Costa de Araújo, Vigário do Rio Grande.
Outro documento que encontrei foi o registro de óbito de uma filha do casal. Diz o registro: Aos onze de Fevereiro de mil setecentos e noventa e um faleceu da vida presente, Maria, filha legitima de Ricardo Wiltxere, de idade de sete dias, foi envolta em mortalha de tafetá azul, encomendada de licença minha pelo Padre Ignácio Castro de Almeida, e sepultada nesta Igreja de Santo Antonio; do que mandei fazer este assento, em que por verdade me assino. Pantaleão da Costa de Araújo, Vigário do Rio Grande.
Pela data de casamento de Ricardo e Caetana é possível que tenha havido outros filhos além de Maria e Ricardo Junior.

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