Os filhos naturais
Dom Frei João da Purificação Marques Perdigão, numas de suas visitas ao Rio Grande do Norte ( O Rio Grande do Norte sob o olhar dos Bispos de Olinda, de Francisco Fernandes Marinho, nosso colega de UFRN), faz o seguinte relato referente ao dia 18 de outubro de 1839, quando de sua passagem por Açu. "Nesta freguesia, como em outras, tem recorrido a mim muitos pais de família para que eu obrigue a casar com suas filhas os moços, que delas tem abusado com promessa de casamento, fazendo-lhes ver por essa ocasião quais deviam ter sido os seus deveres, e como se deviam conduzir segundo as leis existentes."
Os livros de registros de batismo, do século XIX, na região que pesquisei, vão revelando, de momento a momento, um número razoável de filhos naturais. Em sua grande maioria, constava tão somente o nome da mãe, raramente o nome do pai, e mais raramente ainda o reconhecimento de paternidade por parte do pai. Um desses casos raro de reconhecimento é o que fez meu trisavô, José Martins Ferreira, de quatro filhos naturais com Delfina Maria dos Prazeres, nascidos entre 1830 e 1834. Manoel, José , Josefa e Joaquim foram reconhecidos como filhos perante o Vigário de Santana do Mattos João Theotonio de Sousa e Silva.
A pesquisa nesse aspecto fica difícil, a não ser a partir de documentos, ou por um relato perdido de alguém que teve acesso às informações. Muitas vezes ao longo dos anos esses acontecimentos vão sendo ocultados dos familiares. Outro aspecto interessante é que os descendentes parecem querer se afastar da região onde ocorreram tais fatos. Em alguns casos não se consegue muitas informações a partir dos familiares.
No caso de José Martins Ferreira, embora já tenha algumas pistas, não consegui encontrar ainda o destino dos quatro filhos naturais. Alguns registros de casamento sem o nome dos pais são dificultadores de nossa pesquisa. José Martins teve no seu casamento com Josefina Maria Ferreira, um filho com o nome de José. Sem o nome dos pais no registro de casamento fica difícil saber se era o natural ou o legitimo. No casamento de Francisco Martins Ferreira, um filho legitimo de José Martins, uma das testemunhas era Joaquim José. Poderia ser o Joaquim filho natural.
Quando estava tentando descobrir o parentesco de Pedro Avelino com Francisco Avelino, meu bisavô tive dificuldades por conta de uma série de empecilhos. Em alguns documentos aparece o nome do pai de Pedro Avelino, Vicente Maria da Costa Avelino. Encontrei por fim o registro de batismo de Pedro e lá constava Vicente Ferreira da Costa Avelino. Daí achei o casamento de Vicente. Nele constava que ele era filho natural de Alexandre Avelino da Costa Ferreira e Maria Rodrigues da Costa. Precisei pesquisar muito mais para ter certeza que esse Alexandre era o meu trisavô, e esse Vicente era mesmo o pai de Pedro Avelino e que, portanto Vicente Avelino era irmão de meu bisavô. A conversa com José Nazareno Avelino foi fundamental. Fechou o firo como se diz por aqui.
Agora, estou com outra pesquisa a mais para fazer. Há notícias que Domingos José Martins, o revolucionário de 1817, que casou com Maria Teodora, tenha deixado descendentes de um relacionamento anterior. Fala-se que Domingos José Martins, um riquíssimo traficante de escravos que vivia na África, era filho natural dele. Através da internet, recebo um apelo: "Gostaria de saber se Domingos José Martins deixou descendentes. Minha avó dizia ser bisneta dele - provavelmente uma linha bastarda - e eu gostaria de obter informações a respeito. Obrigado, Heloisa."
Informei a ela da existência desse descendente acima. Com essas informações ela fez as seguintes considerações, que vale a pena colocar aqui: "Finalmente começou a ter sentido o que a minha avó contava sobre a sua família materna. Domingos José Martins tinha 3 filhas que frequentavam a sociedade baiana, apesar de serem de um ramo ilegítimo, por terem um pai rico. Este Domingos José Martins deveria ser o filho e não o líder da Revolução Pernambucana. Sempre estranhei, pois um revolucionário que morreu jovem não teria tempo para essa atividade. Assim fiquei muito feliz quando constatei o elo que estava faltando. Mesmo tendo uma profissão nada nobre ele passa a ser importante para mim por ter de alguma maneira contribuído para a minha vinda a vida. Minha bisavó, Maria Angélica, conviveu pouco com sua mãe que morreu jovem. Não acho que tenha recebido herança. Casou cedo com Manoel Duarte D'Oliveira, senhor de engenhos (Cravaçu e Quindu) e que foi prefeito de Salvador no governo de J.J.Seabra. Minha avó veio para o Rio no final dos anos 30 com as duas filhas ainda meninas. Minha mãe e tia, ainda lúcidas, creio que não gostariam de se aprofundar neste ramo bastardo e não pertencente a Casa Grande. Mas sou fascinada por genealogia mesmo acabando na Europa, África ou na selva. E você? Qual o interesse de sua pesquisa? Por que Domingos José Martins? Obrigado pelos esclarecimentos, pelos e-mails, pela atenção, e sobretudo pela descoberta do Domingos José Martins filho."
A volta ao passado traz muitas surpresas. Meu pai contava que Bento José da Costa, tia da sua bisavó, por exemplo, tomou terras de dois bisavós dele. Além disso, dizem que Bento era um grande traficante de escravos.
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