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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Baltazar Soares, da Fazenda Curralinho, e a Baronesa de Serra Branca
João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN,
sócio do IHGRN e do INRG
Nos estudos genealógicos de Manoel Américo de Carvalho Pita,
sobre as famílias de Santana do Matos, Balthazar Soares aparece como genro do
fundador de Angicos, tenente Antonio Lopes Viegas, e como sogro de Luiz da Rocha
Pita, nada confirmado até agora. Encontro informações sobre um Balthazar Soares
que não sei se é o mesmo.
Pelo livro de óbitos de Santana do Matos, o cadáver de Balthazar Soares, branco, foi sepultado aos onze de dezembro de mil
oitocentos e vinte e cinco, na Matriz de Santa Ana do Mattos, falecido com a
idade de oitenta e quatro anos de idade, casado que era com Isabel Maria de
Figueredo; e o da sua esposa, por sua vez, foi sepultado aos vinte de janeiro
de mil oitocentos e vinte e seis, na mesma matriz, falecida com setenta e oito anos de idade.
Pelos registros acima, Balthazar deve ter nascido por volta
de 1741, e D. Isabel por volta de 1748. Além desses registros, encontramos,
também, assentamentos de praça de dois filhos de Balthazar, no Assú. Em tais
registros não aparece a mãe dos assentados.
João Baptista Xavier, filho do capitão Balthazar Soares,
natural da Freguesia do Assú, idade de 32 anos, cabelos castanhos, olhos
pretos, altura 5p e 2pm, praça na 4ª Companhia em 10 de setembro de 1779, e por
despacho do ilustríssimo Sr. Governador, de 26 de junho de 1806, e cumpra-se do
Vedor Geral, passou para esta companhia, casado, vive de criar de gado.
Antonio da Silva Barbosa, filho de Balthazar Soares,
natural, e morador nesta Ribeira do Assú, branco, solteiro, de estatura baixa,
dentes grandes, olhos pequenos, e azuis, nariz grande, sem barba, de idade de
dezesseis anos, assenta praça em revista de vinte e sete de Julho de 1789.
Encontramos mais uma referência ao capitão Balthazar em um “Diário Oficial da União” de 1906, de onde extraímos
trechos que o capitão Absalão Fernandes da Silva Bacilon, juiz distrital em
exercício da Vila de Santana do Mattos, da comarca do Assú, escreveu: Faço
saber aos que o presente edital, com o prazo de 90 dias virem, que, por parte
de D. Belisária Wanderley de Carvalho e Silva, baronesa de Serra Branca, me foi
dirigida a petição do teor seguinte: Cidadão juiz distrital, em exercício, da
Vila de Santana do Matos. A baronesa de Serra Branca, D. Belisária Wanderley de
Carvalho e Silva, viúva e ora residente na cidade do Assú, sede desta comarca,
diz, por seu procurador e advogado, abaixo assinado: que é senhora e possuidora
de uma data ou lote de terras na serra de Santana, deste distrito, e na parte a
que ora dão os nomes de Pelado e Lagoinha; que a extensão superficial da área
desta terra, conforme a respectiva concessão, é de uma légua de largura sobre
três de comprimento, pegando de um olho de água que ali se acha em um riacho,
denominado Caiçarinha, que deságua para parte do Assú; que a dita terra
estende-se na chapada daquela serra, e tem sido cultivada e possuída, delimitando-se,
ao norte, pelas sinuosidades desta mesma serra e quebra das águas, como
vulgarmente se diz, ficando neste lado a antiga fazenda Curralinho de Balthazar
Soares; limita-se, no sul, com terras da fazenda do riacho da Areia, que foi do capitão-mor Cypriano
Lopes Galvão, ao poente, com terras que foram do capitão Felix Gomes Pequeno, e
ao nascente com terras da ribeira do Putegy, onde atualmente está o sítio Bodó
e outros, que tendo a suplicante por si e seus antecessores uma posse de longíssimo
tempo, se não imemorial, pela povoação e cultura constantes das ditas terras,
há menos de um ano, os confrontantes Joaquim Bezerra, viúvo e morador em S.
Bento, Antonio Florêncio, morador em Cipós de Leite, João Lopes de Araújo Galvão,
morador em Areia ou Furna da Onça e as mulheres destes, cujos nomes a
suplicante ignora, bem como Miguel Rodrigues e sua mulher D. Francisca, Antonio
Hermógenes e sua mulher D. Constância, e o cidadão Cícero Rodrigues, moradores
no lugar Catunda e todos no vizinho distrito de Currais Novos, têm feitos
roçados e picadas nos matos dos terrenos sempre possuídos e cultivados pela
suplicante e seus antecessores, sob o pretexto de uma linha novamente tirada
entre este município e aquele de Currais Novos ter apanhado pequena parte dos
mesmos terrenos.
Continuando, mais adiante, a baronesa justifica: A referida
terra foi pedida em 1764 por D. Adriana de Hollanda Vasconcellos, e não tendo
voltado de Portugal esse pedido com a confirmação, o tenente-coronel Francisco
de Souza e Oliveira, em 1804, requereu e lhe foi concedida a mencionada terra
por data da sesmaria, com três léguas de cumprimento e uma de largura, tendo o
ponto de partida e limites acima descritos; em 1822 o capitão Felix Gomes
Pequeno que já havia comprado a mesma terra ao dito donatário, requereu a
certidão daquela data pra realizar a sua propriedade.
Adquirindo esta mesma terra o capitão Felix Gomes Pequeno,
pela forma por que ficou dito, em 1810 a vendeu ao capitão Antonio da Silva de
Carvalho, e esta venda foi ratificada pelos herdeiros do mesmo capitão Felix
Gomes, por escritura pública passada em 22 de julho de 1858, com tudo se vê do
documento.
Por morte dos sogros da suplicante, o mesmo capitão Antonio
da Silva de Carvalho e sua mulher, D. Maria da Silva Veloso, passou essa terra
aos seus herdeiros, um dos quais era o falecido marido da suplicante, Felipe
Nery de Carvalho e Silva, barão de Serra Branca, e este comprando as partes dos
demais, ficou possuindo toda aquela terra.
Falecendo o barão de Serra Branca, sem herdeiros
necessários, a suplicante sucedeu-lhe no todo da herança dos bens por ele
deixado, não só por sua meação como por ter sido instituída, em testamento, sua
herdeira universal, e por isso hoje lhe pertence exclusivamente a terra de que
se trata e cuja demarcação ora se requer.
Em “Velhos Inventários do Seridó”, Olavo de Medeiros Filho, tratando
do inventário de D. Adriana de Holanda e Vasconcelos, que foi casada com
Cipriano Lopes Galvão, Felix Gomes Pequeno e Antonio da Silva e Souza, cita,
também, como confrontante da Data de Terra, na Serra de Santa Ana, o capitão Balthazar
Soares da Silva, do sítio denominado Curralinho.