João Felipe da
Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e
membro do IHGRN e do INRG
Está completando 100 anos que houve, aqui no Rio Grande do
Norte, a campanha eleitoral mais conturbada, para governador do Estado, de toda
nossa existência. Nos jornais do Rio de Janeiro, sede do governo federal, a
presença do Rio Grande do Norte era constante no noticiário, com destaques para
o capitão J. da Penha e o tenente Leônidas Hermes da Fonseca. Que méritos tinha
o jovem Leônidas para ser sugerido como candidato?
Conta Itamar de Sousa, no livro “A República Velha no Rio
Grande do Norte”: Dizem os coevos que o desiderato de Dona Orsina Francione da
Fonseca, esposa do marechal, era ver o filho Leônidas governador do Rio Grande
do Norte. E José da Penha, amigo da família, militar e norte-rio-grandense de
Angicos, fora escolhido para cumprir essa missão histórica. Aconteceu, porém,
que Dona Orsina falecera em 1912 e a campanha sucessória realizou-se no ano
seguinte.
Em outro trecho do seu livro, Itamar diz que a imprensa
situacionista lembrava ao capitão José da Penha que a Lei nº 254 impedia ele e Leônidas
de serem candidatos ao governo, por não residirem aqui, há pelo menos quatro
anos.
Em fevereiro de 1910, J. da Penha era tenente e Leônidas,
ainda, aspirante a oficial. Em março do ano seguinte, Leônidas é promovido de
aspirante a oficial para 2º tenente e, em setembro, casa com a potiguar Adélia
Cavalcanti de Albuquerque. Em fevereiro de 2012, ficou a disposição do
Presidente da Republica, Hermes da Fonseca, seu pai, a fim de servir no estado
maior do mesmo (casa militar). Em março, do mesmo ano, passou a ajudante de
ordem, em substituição ao irmão Mário Hermes, eleito deputado federal pela
Bahia. Na data de 29 de setembro de 1913, outra notícia dava conta que no dia
26, daquele mês e ano, tinha nascido
Leônidas, filho do tenente Leônidas.
O 2º tenente Leônidas Hermes aparece, várias vezes, no
noticiário do Rio de Janeiro, por conta de seu interesse por cavalos: foi
escolhido para representar o Ministério da Guerra, em um concurso hípico; importou
cavalos da Inglaterra e comprou junto com Oldemar Lacerda, o potro inglês de
três anos, Seythian, filho de Roquelaure e Seythia.
Em nenhum dos jornais antigos apareceu qualquer notícia que
enaltecesse as qualidades do jovem Leônidas.
Houve, em janeiro de 1913, um incidente entre o tenente
Leônidas Hermes e o deputado Raphael Pinheiro, por conta de acusações feitas
por este ao irmão daquele, deputado Mário Hermes. Nesse incidente, Leônidas,
fazendo menção de tirar uma arma, avançou para o Sr. Raphael, que, por sua vez,
esperou-o de revolver em punho.
“O Paiz”, de 29 de
abril de 1913, noticiava: o povo de Natal, solidário com a maioria dos
coestaduanos, que aclamam em todos os municípios o nome do tenente Leônidas
Hermes, levantou hoje, em meeting, a sua candidatura, livre e espontaneamente,
certo de que evitará com este nome, benquisto aos próprios governistas, as
perturbações provocadas por outras candidaturas, sendo ele estranho as lutas
regionais e ligado por laços de família ao Estado que não permitirá de forma
alguma a continuação da oligarquia com o seu representante senador Ferreira
Chaves.
De vários municípios do Rio Grande do Norte saíram telegramas
apelativos para o marechal Hermes da Fonseca. Entre eles um de Macau, datado de
26 de abril de 1913, nos seguintes termos: Apelamos para o nobre sentimento e
patriotismo de V. Ex. a fim de evitar a perturbação de paz do Estado e de sua
liberdade. O povo abraça espontaneamente a candidatura Leônidas Hermes.
Respeitosas saudações, Francisco Honório, Manuel Fonseca, Antonio Honório
Filho, Joaquim Cardoso, Nicolau Tibúrcio, Eduardo Azevedo, Manuel Caetano, José
Brito, José Bezerra e Leocádio Queiroz.
A resposta veio de imediato: Respondendo ao vosso apelo não
compreendo que, no interesse da paz do Estado do qual sois filho, procureis um
estranho que nem sequer conhece esta região e teria o grande inconveniente de
ser descendente do Presidente da República. Não parece, pois, nem digno nem
justo o vosso gesto, que viria criar uma grande oligarquia, sistema de governo
contra o qual sempre protestei. Hermes Rodrigues da Fonseca.
Mesmo diante da manifestação do Presidente, a campanha
prosseguiu. O capitão J. da Penha pretendia lançar a candidatura, no dia 12 de
maio, dia do aniversário do Marechal Hermes da Fonseca. Ainda em junho, o
capitão declarou que o tenente Leônidas Hermes chegaria brevemente a capital a
fim de pleitear a sua eleição ao cargo de governador.
Nesse mesmo 12 de maio, J. da Penha escrevia para as filhas:
O nosso Leônidas, filhinho de peixe, nada muito bem. À imprensa uma coisa e
para mim outra pelos telegramas. O povo está correto, com entusiasmo e sem
medo. Não retirarei mais o nome de Leônidas nem que chova tapioca ou qualquer
outra coisa. Há de subir ou cair comigo, a Nação, vendo que tínhamos um pacto.
Minha boca não se abre para dizer que ele não quer porque juraria falso.
Em agosto, em outra carta para as filhas: O povo coagido
pela polícia começa a desanimar. Tudo se reanimaria, salvando-se, de repente, o
que já naufragou, se Leônidas viesse, como se comprometeu e era necessário.
Em outro momento, escreveu sobre Pinheiro Machado, que
influenciava o Presidente contra a candidatura de Leônidas: Quanto ao monstro
Pinheiro Machado, Senhora Dona Annita (uma das filhas), seu pai ainda viu,
agora, melhor do que os politiqueiros e os cobardes. Não é nem será nunca o
presidente da República.
Por fim, Leônidas não apareceu por aqui. Por que, então, o
capitão J. da Penha escolheu figura tão
apagada?