Extraído do Diário do Natal, do ano de 1906
Por João Felipe da Trindade - jfhipotenusa@gmail.com
Por João Felipe da Trindade - jfhipotenusa@gmail.com
Hoje à uma hora da manhã sucumbiu, vítima de uma terrível
tuberculose, o venerando ancião – coronel José Theodoro de Souza Pinheiro,
deixando em desolação sua prezada família e enlutada a “Pátria Angicana”. A
perda irreparável desse conspícuo cidadão abre um vácuo impreenchível no seio da
política oposicionista desta terra.
O respeitável morto foi desde a 2 de fevereiro de 1848 até 2
de setembro de 1906, um dos lutadores mais intransigente da política potiguar.
A traiçoeira mão da Parca veio cortar o fio da existência de
tão caro, quão virtuoso e honesto varão, modelo dos pais, esposo exemplar,
amigo sincero e católico verdadeiro.
O solo angicano estremecia e exuberava de prazer em possuir
tão ilustre filho. Este símbolo digno de imitação, de caráter puro, sem jaça,
de fina têmpora, jamais se brandia diante do rigor da perseguição adversa.
Timbrava não recuar em frente a mais terrível ameaça,
daqueles que tinham em mira verem-no nulificado no cenário público dos
acontecimentos.
O coronel José Theodoro encetou sua vida pública em 2 de
fevereiro de 1848, na capital de Pernambuco, fazendo parte do movimento
revolucionário, ao lado do desembargador Joaquim Nunes Machado, Joaquim
Jeronymo de Castro Vilela, Antonio Borges da Fonseca, e outros.
Em 1854 provisionou-se no Tribunal de Relação de Pernambuco,
subindo no plenário pela 1ª vez para defender um réu de crime de morte, teve a
glória de po-lo em liberdade.
Durante sua vida de advogado, nunca traiu ao seu cliente;
nunca vendeu uma causa, era nessa parte de uma infibratura invejável.
Em 1856 assumiu a direção da política deste município,
encontrando as mais horríveis dificuldades, sem que se curvasse nos momentos
críticos do desempenho de seu dever.
Em 11 de setembro de 1859 entrou na Sociedade de Socorros
Mútuos e Lenta Emancipação dos Cativos, da qual possuía o seguinte título:
Caridade e Fraternidade – Regeneração Católica – Associação
de Socorro Mútuos e Lenta Emancipação dos Cativos, estabelecida em 11 de
setembro de 1859.
Associação de Socorros Mútuos e Lenta Emancipação dos
Cativos, atendendo ao merecimento do Ilmo. Sr, Dr. José Theodoro de Souza
Pinheiro, e de conformidade com os Estatutos, confere-lhe o diploma de sócio,
pelo que gosará de todos os direitos que lhe são consagrados nos mesmos
estatutos. Sala da Associação, em Pernambuco, 4 de Dezembro de 1859. O
presidente Dr. Antonio Borges da Fonseca – 1º Secretário Luiz Cyriaco da Silva
– 2º Secretario Modesto Francisco das Chagas Cannabara – Tesoureiro Albino de
Jesus Bandeira. Eis o título que ele consagrava culto de veneração.
Em 1871 bateu-se com todas as forças incutindo na alma da
massa rústica de sua terra as vantagens da áurea lei de 28 de setembro.
Em 1877 até 1888 na qualidade de membro da Comissão Libertadora empregou
sacrifícios para convencer aos escravocratas a necessidade do município de
Angicos ser livre antes de um lei obrigatória, o que conseguiu em dia do mês de
abril do ano de 1888.
O coronel José Thedoro nunca conquistou posições, nem
almejou grandezas, além daqueles que a nobreza de sua alma trazia-lhe, por
meio do reconhecimento dos homens dotados de bons sentimentos.
Por distinção do seu impoluto caráter, pelo tipo à Romano e
fibra de Catão, os amigos do centro o distinguiam - consultando-o em tudo.
Correu em duas chapas para Deputado provincial, no antigo
regime, nada obtendo porque, os políticos não viam nele um instrumento do
chefe.
Em 1876 foi apresentado pelo Dr. Moreira Brandão, na
ascensão do Partido Liberal, o seu nome para 5º vice-presidente, logo que
chegou ao seu conhecimento escreveu pedindo que retirasse a indicação.
Em 1891 foi nomeado tenente-coronel da Guarda Nacional,
sendo reformado por Decreto de 23 de agosto de 1893 no posto de coronel
comandante da mesma Brigada.
Este lidador invencível morreu convencido de que a liberdade,
igualdade e fraternidade em nosso País era um sonho, que o 15 de novembro que
ele sonhou ao encetar sua vida pública, veio trazer-nos a desilusão de que não
havia altivez de caráter como ele supunha.
Desiludido sim, porem abraçado com a bandeira de suas
crenças.
O ilustre morto era filho do tenente Antonio Teixeira de
Sousa e D. Anna Rita Veiga de Azevedo, aquele filho do capitão Francisco
Antonio Teixeira de Sousa descendente da família de Frei Miguel Joaquim de
Almeida Castro, conhecido por Miguelinho; e essa filha do capitão Francisco
Lopes Viégas, descendente do tenente Antonio Lopes Viégas.
O finado nasceu em 28 de janeiro de 1828, casou-se em 20 de
dezembro de 1850, com Dona Josefa Martins de Souza Pinheiro, filha do abastado
fazendeiro Antonio Martins dos Santos, de cujo enlace teve 16 filhos, criando
somente 6 e enviuvou a 6 de dezembro de 1887.
A nobreza de sua alma fez que ligasse a família de sua digna
esposa, 56 anos de mais extremosa convivência e fidelidade, sem tergiversarem
um dia dessa sagrada união.
O golpe da fatalidade veio roubar a essa honrada família o amigo extremoso, ao lar o pai carinhoso.
O golpe da fatalidade veio roubar a essa honrada família o amigo extremoso, ao lar o pai carinhoso.
O lar dos nossos amigos majores Theodoro Filho e Vespasiano,
esteve em completa romaria desde uma hora da manhã até as 3 da tarde; ali iam
todos os amigos e parentes do morto depositar uma lágrima de saudade pela
eterna separação do pai extremoso, do amigo sincero, do esposo carinhoso e do
católico verdadeiro, relembrando a todos a orfandade do lar, dos amigos e da
pátria angicana.
O saimento teve lugar as três horas da tarde, acompanhado
dos amigos e quase totalidade da massas angicana; ao chegar ao cemitério público
desta Vila e, ao deitar a última pá de areia sobre o esquife, o major José
Anselmo Alves de Souza, em tocantes e eloquentes frases levantou a voz
comemorando as virtudes de seu inesquecível correligionário e amigo coronel
José Theodoro, deixando os presentes imergidos pelas lágrimas da dilacerante dor,
naquele momento de tão augusta separação.
Em toda massa popular lia-se a dor de ver a pátria angicana
perder um de seus ilustres filhos. Distinguindo-se, sobretudo, o seu extremoso
amigo e primo João Felippe Teixeira de Souza, que em prantos lastimava a
separação eterna de sue melhor amigo e não cessava um só minuto de beijar-lhe
as faces, relatando os idos tempos em que unidos em um só pensamento batiam com
denodo os seus mais encarniçados adversários; estas frase consternavam os mais
duros corações.
O partido oposicionista de Angicos – compartilhando da
grande dor porque veem de passar os seus prestimosos amigos – major José
Theodoro Filho, Alexandre Vespasiano de Souza Pinheiro, Bernardo Martins dos
Santos, Antonio Martins dos Santos e Joaquim Martins dos Santos e os cidadãos
João Felippe Teixeira de Souza e Francisco Geminiano Teixeira de Souza, filhos,
cunhados e sobrinhos do seu inolvidável chefe – coronel José Theodoro,
renova-lhes a expressão sincera de seu
profundo pesar, e, em homenagem à memória desse ilustre morto manda publicar
esta linhas.
Vila de Angicos, 2 de setembro de 1906. Diário do Natal.
Vila de Angicos, 2 de setembro de 1906. Diário do Natal.