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terça-feira, 18 de outubro de 2011

A Capitania no tempo de Caetano da Silva Sanches


João Felipe da Trindade (jfhipotenusa@gmail.com)
Professor da UFRN e membro do INRG
Pelos documentos até agora observados, vejo que o capitão-mor que foi desta Capitania, Caetano da Silva Sanches, era conhecedor e interessado nas questões de nossa Província do Rio Grande do Norte. Vamos conhecer um pouco desse homem que esteve entre nós, e defendeu a nossa independência da Capitania de Pernambuco. Começaremos com o batismo de um neto, documento que contém uma série de informações sobre ele e sua família.

Caetano, filho do capitão-mor Manoel Teixeira de Moura, natural desta Freguesia e de Dona Michaela Joaquina Sanches, natural de Recife, neto paterno do coronel Francisco da Costa de Vasconcelos, natural da Paraíba, e de Dona Maria Rosa, natural desta Freguesia, e materno do capitão-mor, Governador Caetano da Silva Sanches, natural da Vila de Cascais do Patriarcado de Lisboa, e de Dona Maria Francisca do Rosário Lages, natural de Recife, nasceu aos vinte de fevereiro de mil setecentos e noventa e cinco, e foi batizado com os Santos Óleos na Igreja dos Militares, que serve de Matriz, pelo Reverendíssimo Padre Mestre Visitador Frei Joseph Maria de Jesus, aos dezenove de março do dito ano. Foram padrinhos o Ilustríssimo Governador Caetano da Silva Sanches e sua mulher Dona Maria Francisca do Rosário Lages, do que para constar fiz este assento em que me assino. Ignácio Pinto de Almeida Castro, Vigário Encomendado do Rio Grande.

Caetano fez um testamento em 23 de agosto de 1799. Nesse documento se diz "sargento-mor de Infantaria paga, e por agora governador da mesma Capitania". Declara ainda que era natural da Vila de Cascais da Europa, filho legítimo do capitão Francisco da Silva Sanches e Dona Maria Joaquina, e que era casado com Dona Maria Francisca do Rosário Lages, filha legítima do sargento-mor Francisco Gonçalves Lages, natural de Pernambuco. Disse que de sua mulher teve dois filhos, Pedro, que com poucos dias de nascido faleceu, e Dona Micaela Joaquina Sanches, casada que foi com o capitão Manoel Teixeira de Moura, também já falecida. Deixa como herdeira universal sua mulher, pois Dona Micaela não deixou filho. Esse Caetano batizado acima deve ter falecido, portanto.

No ano seguinte, Caetano faleceu.  Vejamos seu óbito. Aos quatorze de março do ano de mil oitocentos faleceu da vida presente, tendo recebido os sacramentos da Penitência e Unção, o sargento-mor e Governador desta Capitania Caetano da Silva Sanches, branco, casado com Dona Maria do Rosário Lages, com cinqüenta e cinco anos de idade de um estupor, foi sepultado nesta Matriz envolto em hábito dos religiosos de São Francisco, depois de ser encomendado por mim. E para constar fiz este termo em que assinei. Feliciano José Dornelles. Vigário Colado.

Depois de tomar posse da nossa Capitania do Rio Grande, escreveu para Martinho de Mello e Castro, Secretário de estado da Marinha e Ultramar. Transcrevo para cá um trecho de sua correspondência.

No dia 12 de fevereiro deste presente ano (1791) tomei posse desta Capitania do Rio Grande do Norte, da qual Vossa Excelência me fez a honra de encarregar o governo dela, achando esta pequena Cidade e suas vizinhanças, no deplorável  estado de maior compaixão, com uma epidemia de bexigas que tem morto muita gente, e poucas casas há, tanto nesta cidade, como nas referidas vizinhanças, que não experimentem  o mesmo mal, sendo o meu maior sentimento a falta de todos os víveres que padecem, por  constar que alguns dos doentes chegaram a comer cocos, e mangaba, por não ter outro mantimento, e porque desde primeiro de janeiro até o dia da dita minha posse, se não tinha vendido aqui uma libra de carne no açougue, por se não ter rematado o contrato, por desordens que aqui houve antes de minha chegada. Indaguei quem tinha gados, e os obriguei a conduzir para esta cidade e o matassem, e vendessem no açougue ao Povo, prontamente se executou tanto no Carnal como na Quaresma.

E pelas travessias que fariam com a farinha, que é grão deste país, e há muitos meses se não vendia aqui uma quarta, pela conduzirem em embarcações para diversas partes, e a que ficava neste distrito a iam comprar aos lavradores, a seiscentos e quarenta réis o alqueire, para a virem vender nesta cidade, "aos pratos", e me dizem que fariam em cada alqueire dois mil e quatrocentos réis, e vendo eu  a pobreza deste Povo, e o vexame em que estavam  passei ordem para o fim de que todos os lavradores, reservando a farinha que lhe fosse precisa para a sua sustentação, toda a mais a viesse vender a esta cidade e aquele que obrasse o contrário, que o havia castigar, e para evitar o manipulo que estaria em semelhante gênero, lhe pus a tara de oitocentos réis o alqueire, e vendo que a medida era muito pequena, disse ao almotacel desta cidade que esta Câmara é filial de Pernambuco e que as medidas se deviam regular pela dela, mandou a dita Câmara acrescentar a medida, altura de um dedo polegar pouco mais ou menos.

Também mandei as praias deste Distrito buscar quantas jangadas e pescadores que por ela se achavam para o fim de irem pescar e virem vender o peixe nesta Cidade.

Ordenei ao Cirurgião da Companhia que guarnece a Fortaleza desta Cidade que fosse todos os dias de manhã, e de tarde visitar a todos os doentes por aqui não haver outro Cirurgião, nem médico, e os remédios que ele tinha em seu poder pertencentes a Fidelíssima Majestade, e fossem próprios para semelhante moléstia, os desse a todos aqueles doentes que precisassem  deles, pois aqui não há uma Botica.
Em outros artigos trarei mais informações das ações do capitão-mor Caetano da Silva Sanches, extraídas do CMD da Universidade de Brasília.