Mais uma vez recorremos ao Mestre Manoel Rodrigues de Melo, que na sua introdução sobre Macau, na Revista da Academia Norteriograndense de Letras, escreveu: "Ninguém procurou ainda sondar, pesquisar, medir, esquematizar, diria melhor, sentir através da documentação existente, o quanto de labor, sacrifício, desgosto, decepção, vitória, alegria, entusiasmo, ficou no bojo silencioso da história, sem a compreensão devida pelos contemporâneos e pela posteridade.
Comerciantes, agricultores, fazendeiros, pescadores, canoeiros, salineiros, políticos, administradores, carreiros, comboeiros, trabalhadores de salinas ou de carnaubal, motoristas de automóvel ou caminhão, todos participaram e participam dessa batalha nem sempre compreendida pela grandeza e prosperidade das cidades ou dos municípios."
Quem escreve sobre os primórdios de Macau repete, sempre, as mesmas pessoas, citadas por Câmara Cascudo, que deixaram a Ilha de Manoel Gonçalves, que o oceano foi tragando ano a ano. Essa relação de pessoas precisa ser revista, pois, até Cascudo tinha dúvidas sobre os genros do Capitão João Martins Ferreira. Além disso, nesses anos todos que se passaram, desde o desaparecimento completo da Ilha, quase nada se escreveu sobre a vida e os descendentes daqueles que viveram por lá. É como se o mar tivesse tragado, também, a memória deles. Como um dos descendentes direto do Capitão João Martins Ferreira, tento nestes artigos, aqui no "O Jornal de Hoje", escrever sobre essas pessoas que de alguma forma tinham alguma relação com a Ilha ou a povoação inicial de Macau. Um deles foi o Capitão Jacinto João da Ora. Ele fazia da parte da relação acima e era o único brasileiro do grupo. Vejamos, inicialmente o registro de seu óbito, pois teremos uma idéia da provável data de seu nascimento.
"Aos vinte e cinco dias do mês de Junho de mil oitocentos e cinqüenta e três foi sepultado na Capela de Nossa Senhora da Conceição da Vila de Macáo, acima das grades, filial da Matriz desta Freguesia, o Cadáver de Jacinto João da Ora, branco, viúvo, morador n'esta Freguesia, falecido de moléstia interior, com os Sacramentos, na idade de Setenta anos, foi amortalhado em preto e encomendado de minha licença pelo Reverendo Ignácio Damaso Correa Lobo; de que fiz este assento, e pelo qual, para constar, fiz este termo que assino. O Vigário Felis Alves de Sousa"
Portanto, salvo erro na idade dele, deve ter nascido por volta de 1783. Em 1825 já se encontrava na Ilha de Manoel Gonçalves, como podemos ver pelo batismo de uma de suas filhas.
"Anna, filha legitima de Jacinto João da Ora, natural do Assu, e Adriana (Pereira) dos Anjos de Extremoz nasceu aos cinco de Fevereiro de mil oitocentos e vinte e cinco, e foi batizada aos nove de Dezembro do dito ano no Oratório de Nossa Senhora da Conceição (da Ilha) de Manoel Gonçalves e lhe conferi os Sagrados Óleos. Foram Padrinhos André de Sousa Miranda (e Silva) e Francisca das Chagas Miranda, solteiros, todos deste Assu. E para constar fiz este assento em que me assinei. Joaquim José de Santa Anna, Parocho do Assu."
Através de registros de casamentos, encontramos outros filhos de Jacinto e Adriana:
Em 6 de Julho de 1853, em Oratório Privado, em Touros, Francisco Ignácio de Miranda contraiu núpcias com Úrsula Maria das Virgens, filha legitima de João Francisco dos Santos e Maria Tavares de Mattos, com dispensa de parentesco de consanguinidade e afinidade ilícita.
Em 25 de Fevereiro de 1854, em Macau, Thereza de Jesus Miranda, contraiu núpcias, com Paulo Francisco Cardoso de Miranda, filho natural de Anna Joaquina de Miranda, tendo como testemunhas André de Sousa Miranda e Silva e Francisco José de Mello Guerra, casados. Esse último, também, da relação dos povoadores de Macau que veio da Ilha.
Em 28 de Maio de 1855, em Macau, Manoel Pedro de Miranda contraiu núpcias com Clara Francisca de Santa Anna, filha legitima do Barnabé José de Santa Anna e Anna Maria da Conceição, tendo como testemunhas José de Borja Raposo da Câmara, solteiro a vida toda, e João Alves Fernandes.
Em 28 de Julho de 1856, lá nas Oficinas, Ignácio Zacharias de Miranda contraiu núpcias com Francisca Idalina de Carvalho, filha de Gorgonio Ferreira de Carvalho e Anna Joaquina Cordeira, sendo testemunhas André de Sousa Miranda e Silva, e Manoel Roque Rodrigues Correa. No dia 26 de Maio de 1858, Ignácio Zacharias faleceu, com 39 anos de idade, de hidropisia.
Nessa mesma data, lugar e testemunhas supra, Anna Bernada de Miranda, essa filha natural do Capitão Jacinto João da Ora e de Bernarda Maria da Conceição, contraiu núpcias com José Fragoso de Medeiros, filho de Antonio Fragoso de Medeiros e Maria Fragosa.